domingo, 8 de novembro de 2009

FILOSOFIA DA IDADE CONTEMPORÂNEA

Consideramos como contemporânea a filosofia que se estende, dentro da imprecisão cronológica própria das produções culturais, ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. A filosofia contemporânea, nas suas linhas mais fundamentais e características, só pode ser adequadamente compreendida em relação com a obra de Hegel. Com efeito, a filosofia contemporânea constitui em grande medida uma reacção contra o sistema hegeliano, ao mesmo tempo que retoma poucas das suas análises e interrogações.

A mais notável e radical reacção contra o sistema de Hegel é feita por Marx, pelo marxismo. O marxismo, entroncado originalmente na esquerda hegeliana, distingue e separa o sistema hegeliano (idealista) do método dialéctico. Aceitando e transformando este último, a filosofia marxista "inverte" o sistema de Hegel, propondo uma visão dialéctica-materialista da consciência, da sociedade e da história.

Outra reacção contra o hegelianismo - reacção estreitamente vinculada à situação económica, social e intelectual resultante da revolução industrial - é representada pelo positivismo, especialmente o de Comte. Neste caso, reage-se contra o "racionalismo" hegeliano naquilo que possa ter de menosprezo da experiência, com a pretensão de instaurar um saber positivo, capaz de fundamentar uma organização político-social nova. Como Marx, Comte conserva, no entanto, embora transformando-o, um momento importante do hegelianismo: a ideia de "espírito objectivo".

O positivismo (tomado, em geral, como uma atitude renitente à especulação filosófica e propenso a considerar a ciência como forma de conhecimento, não só modelar, mas exclusiva) constitui, além disso, uma constante na história do pensamento. Apesar das suas notáveis diferenças na maneira de pôr os problemas, é possível reconhecer esta linha no empirismo do século XVIII, no positivismo do século XIX e no positivismo lógico ou empirismo lógico do século XX. O empirismo lógico ou positivismo lógico do séc. XX constitui um dos movimentos (juntamente com o "atomismo lógico" e a filosofia analítica) integrantes da corrente analítica dos nossos dias, cuja máxima originalidade consiste em haver transformado o próprio conceito de filosofia: para a corrente analítica, a filosofia não tem por objecto a realidade, mas a análise da linguagem acerca da realidade, quer se trate da linguagem ordinária ou comum, ou da linguagem científica acerca da realidade.

Outras correntes da filosofia contemporânea tomaram como objecto principal de consideração o fenómeno da história, da vida e da irreductibilidade da existência pessoal: as filosofias historicistas, vitalistas, existencialistas e personalistas. O existencialismo constitui, originalmente, uma reacção contra o hegelianismo e em favor da individualidade, colocando em primeiro plano a categoria de singularidade, preferida pelo "sistema dialéctico" de Hegel (Kierkegaard). No seu desenvolvimento no século XX (Heidegger, Sartre), a par da reacção anti-hegeliana já apontada, o existencialismo depende directamente da fenomenologia de Husserl, no tocante às suas análises da existência humana. Quanto ao vitalismo de Nietzsche, representa uma reacção não apenas contra Hegel, mas contra toda a tradição intelectualista-religiosa que se opôs à vida e aos valores vitais, desde que se verificou a aliança do platonismo com o cristianismo.

Mesmo quando as correntes filosóficas que mencionámos remetem directa ou indirectamente para Hegel, seria errado deduzir dele, por oposição ou continuação (ou por ambas as coisas), todo o pensamento contemporâneo. O descrédito geral da especulação filosófica subsequente ao hegelianismo conduziu a atitudes relativistas e cépticas contra as quais se levantou também a filosofia. Este enfrentamento com o relativismo e o cepticismo tornou-se patente a partir de diferentes posições, tanto na fenomenologia de Husserl (intento de fazer da filosofia uma ciência de rigor), como nas investigações acerca da vida e da história levadas a cabo por Dilthey e Ortega y Gasset. Estes dois filósofos pretendem compreender a vida e a história com base em categorias especificas rigorosas.

Talvez a característica externa mais saliente da filosofia contemporânea seja a disparidade de enfoques, sistemas e escolas, face ao desenvolvimento, de certo modo mais uniforme e linear, da filosofia moderna (racionalismo, empirismo, Kant, idealismo hegeliano). Para esta proliferação de pontos de vista e de escolas, contribuíram, em grande medida, factores sócio-culturais, como: a crise contemporânea dos sistemas políticos, o avanço espectacular das ciências naturais e lógico-formais e o desenvolvimento das ciências humanas, cujos métodos e resultados tiveram repercussões e consequências de interesse no campo e nos problemas da filosofia (psicanálise, estruturalismo).

Filosofia moderna

Filosofia moderna é toda a filosofia que se desenvolveu durante os séculos XV, XVI, XVII, XVIII, XIX; começando pelo Renascimento e se estendento até meados do século XX, mas a filosofa desenvolvida dentro desse período está fragmentada em vários subtópicos, e escolas de diferentes períodos, tais como:

Filosofia da Renascença
Filosofia do século XVII
Filosofia do século XVIII
Filosofia do século XIX
Na modernidade passou-se a delinear melhor os limites do estudo filosófico. Inicialmente, como atestam os subtítulos de obras tais como as Meditações de René Descartes e o Tratado de George Berkeley, ainda se fazia referência a questões tais como a da prova da existência de Deus e da existência e imortalidade da alma. Do mesmo modo, os filósofos do início da modernidade ainda pareciam conceber suas teorias filosóficas ou como fornecendo algum tipo de fundamento para uma determinada concepção científica (caso de Descartes), ou bem como um trabalho de "faxina” necessário para preparar o terreno para a ciência tomar seu rumo (caso de John Locke), ou ainda como competindo com determinada conclusão ou método científico (caso de Berkeley, em The Analyst, no qual ele criticou o cálculo newtoniano-leibniziano – mais especificamente, à noção de infinitesimal – e de David Hume com o tratamento matemático do espaço e do tempo). Gradualmente, contudo, a filosofia moderna foi deixando de se voltar ao objetivo de aumentar o conhecimento material, i.e., de buscar a descoberta de novas verdades – isso é assunto para a ciência – bem como de justificar as crenças religiosas racionalmente. Em obras posteriores, especialmente a de Immanuel Kant, a filosofia claramente passa a ser encarada antes como uma atividade de clarificação das próprias condições do conhecimento humano: começava assim a chamada "virada epistemológica".

Filosofia medieval

Na Idade Média, ocorreu um intenso sincretismo entre o conhecimento clássico e as crenças religiosas. De fato, uma das principais preocupações dos filósofos medievais foi a de fornecer argumentações racionais, espelhadas nas contribuições dos gregos, para justificar as chamadas verdades reveladas da Igreja Cristã e da Religião Islâmica, tais como a da existência de Deus, a imortalidade da alma, etc.

Filosofia Antiga

A filosofia antiga nasceu de uma necessidade em explicar o mundo com explicações reais, sem buscar explicação no mitológico, no incompreensível; derrubando assim o mito para introduzir uma nova forma de analisar e compreender o mundo e seus fenômenos. O primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Originalmente, todas as áreas que hoje denominamos ciências faziam parte da Filosofia: expressão, no mundo grego, de um conjunto de saber nascido em decorrência de uma atitude. E, de fato, tanto Platão, no Fédon, quanto Aristóteles, na Metafísica, puseram na atitude admirativa, no admirar tò thaumázein, e também no páthos ("um tipo de afetação, que pode ser definido como um estranhamento"), a archê da Filosofia. "No Teeteto, Sócrates diz a Teodoro que o filósofo tem um páthos, ou seja, uma paixão ou sensibilidade que lhe é própria: a capacidade de admirar ou de se deixar afetar por coisas ou acontecimentos que se dão à sua volta".[1] O thaumázein, assim como o páthos, têm a ver com "um bom ânimo ou boa disposição (...) que levou certos indivíduos a deixar ocupações do cotidiano para se dedicar a algo extraordinário, a produção do saber: uma atividade incomum, em geral pouco lucrativa, e que sequer os tornava moralmente melhores que os outros"[1].

Pincipais Filosofos Brasileiros e Suas teses.

Olavo de Carvalho, o filosofo defensor da interioridade humana contra a tirania coletiva

filósofo e professor Olavo de Carvalho é o mais importante pensador brasileiro da atualidade. Olavo conquista o leitor por suas idéias vigorosas, expressas numa eloqüência franca e contundente que alia o rigor lógico e a erudição ao mais temível senso de humor. Nas palavras do poeta Bruno Tolentino, "a capacidade de desenterrar do pensamento antigo novas idéias aptas a lançar luz sobre o presente é a marca do verdadeiro erudito; a capacidade de encarar os problemas do presente com aquela coragem radical apta a trazer à luz os fundamentos últimos do conhecimento é a marca de algo mais que o mero filósofo-padrão de hoje em dia."
Olavo de Carvalho é um iconoclasta de incontornável honestidade intelectual que tomou para si a tarefa ingrata de pôr a nu os falsos prestígios acadêmicos e expôr as falácias do discurso político e intelectual vigente.
A tônica de sua obra é a defesa da interioridade humana contra a tirania da autoridade coletiva, sobretudo quando escorada numa ideologia "científica". Para Olavo de carvalho existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento e a autonomia da consciência individual.

Roberto Campos, o saudoso imortal
Colaborador e executor do Plano de Metas do governo JK, criador do BNDES e do Estatuto da Terra, inventor do plano de reestruturação econômica que possibilitou tirar da faixa de pobreza mais de 30 por cento da nossa população, Roberto Campos fez mais por este país do que qualquer outro intelectual brasileiro da sua geração. Mesmo que sua lição tivesse vindo somente pelo exemplo e não por milhares e milhares de páginas de luminosa graça e potente erudição, ele já teria sido um autêntico instrutor e guia da sua pátria: Magister patriae.
Em retribuição, foi também o mais caluniado, desprezado e aviltado personagem em meio século de História do Brasil. E não são coisas de jornais velhos. Ainda circulam livros didáticos que o mostram às crianças com as feições de um Drácula da economia. Mas, com todos esses quilômetros de papel sujo, seus detratores jamais conseguiram intimidá-lo, perturbá-lo ou extinguir seu bom humor. Conseguiram apenas fazer de si mesmos, coletivamente, um monumento à impotência da calúnia e à glória do caluniado.
O dr. Roberto não estava somente fora do alcance das palavras dessa gente: estava além do seu círculo de visão. Ele foi, num ambiente de crianças perversas, um dos raros exemplares brasileiros do spoudaios - o ‘homem maduro’ da ética de Aristóteles - que, tendo feito da objetividade o seu estado de ânimo natural, encarna a autoridade da razão e por isto está apto a fazer o bem ao seu país. O nome disso é humildade. Pois a humildade, dizia Frithjof Schuon, no fundo é apenas senso do real.



Rui Barbosa, a águia de Haia

Rui Barbosa foi, sem dúvida, um dos mais importantes personagens da História do Brasil. Rui era dotado não apenas de inteligência privilegiada, mas também de grande capacidade de trabalho. Essas duas características permitiram-lhe deixar marcas profundas em várias áreas de atividade profissional: no campo do direito - seja como advogado, seja como jurista -, do jornalismo, da diplomacia e da política.
Foi deputado, senador, ministro e candidato à Presidência de República em duas ocasiões, tendo realizado campanhas memoráveis. Seu comportamento sempre revelou sólidos princípios éticos e grande independência política. Participou de todas as grandes questões de sua época, entre as quais a Campanha Abolicionista, a defesa da Federação, a própria fundação da República, e a Campanha Civilista.
Mesmo admirando a cultura francesa, como todos os intelectuais de sua época, Rui conhecia também a fundo o pensamento político constitucional anglo-americano, que, por seu intermédio, tanto influenciou a nossa primeira Constituição republicana. Era um liberal, e foi sempre um defensor incansável de todas as liberdades.
Orador imbatível e estudioso da língua portuguesa, foi presidente da Academia Brasileira de Letras em substituição ao grande Machado de Assis. Sua produção intelectual é vastíssima. Basta dizer que a Fundação Casa de Rui Barbosa já publicou mais de 137 tomos de suas obras completas, e ainda temos material para novas edições.
Rui representou o Brasil com brilhantismo na Segunda Conferência Internacional da Paz, em Haia e, já no final de sua vida, foi eleito Juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio.
Em suma, Rui foi um cidadão exemplar, e ainda hoje sua memória é fonte de inspiração para um grande número de brasileiros.
- Mário Brockmann Machado, Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa

Eugênio Gudin, o patrono dos economistas brasileiros
Administrador e intelectual, o carioca Eugênio Gudin faz parte da história política e econômica do Brasil não só pelas funções que ocupou na empresa privada e no Poder Executivo, mas por sua vasta produção teórica e pelas posições assumidas em importantes momentos da vida nacional.
Formado em engenharia civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1905, dirigiu a Pernambuco Tramways and Power e por, trinta anos, foi diretor da Great Western of Brazil Railway, no Rio de Janeiro. Paralelamente, presidiu a Associação das Companhias de Estradas de Ferro do Brasil. Na década de 50 foi presidente da Companhia Paulista de Força e Luz e diretor da Associação Econômica Internacional.
O interesse sempre crescente pelos assuntos econômicos levaram Gudin a cursar economia em 1922. Dois anos depois, passou a escrever artigos em O Jornal, do qual era proprietário junto com Assis Chateaubriand.
Em 1938, ele fundou a pioneira Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, no Rio de Janeiro. Até então, ensinava-se economia nas escolas de Engenharia e Direito.
Entre outras obras, escreveu "Princípios de economia monetária" (1943), o primeiro livro sobre monetarismo publicado no país que se tornou bíblia de uma geração que inclui desde Roberto Campos até Mário Henrique Simonsen, que era primo de Gudin.
Foi chamado diversas vezes para colaborar com o governo Vargas durante o Estado Novo. Em 1944, participou como delegado brasileiro da reunião na qual seriam criados o FMI e o Banco Mundial, em Bretton Woods (EUA). Sua principal contribuição, entretanto, seria dada como ministro da Fazenda de Café Filho, em 1954, quando fixou um rígido controle monetário para deter a inflação. Mas ficou só oito meses no cargo, contrariado com o acordo entre Café Filho e Jânio Quadros, governador paulista na época, que afrouxava a política econômica.
Miguel Reale,jurista,filosofo e imortal
Filósofo, Jurista e Imortal. Ética, dignidade, competência e devoção às causas do direito e da humanidade, são características essenciais de Miguel Reale, que na glória de seus noventa anos, ensina com sábia proficiência que o operador do direito, sobretudo o advogado, deve buscar a justiça através do conhecimento científico apurado.
Nesse teor de idéias, lançou-se, ainda moço, na defesa de uma tese contrapunha-se à redução normativista de Hans Kelsen: a "Teoria Tridimensional do Direito".
Toda a teoria do mestre de Viena desenvolveu-se sobre o pensamento de que direito é apenas e tão somente norma jurídica. Miguel Reale entendia que "não, a norma jurídica é apenas a indicação de um caminho, devo partir de um determinado ponto e ser guiado por certa direção: o ponto de partida da norma é o fato, rumo a determinado valor".
O Direito é fato, valor e norma, para quem quer que o estude, havendo apenas variação do ângulo ou prisma de pesquisa, uma realidade, digamos assim, trivavente, ou por outras, tridimensional.
Na tridimensionalidade do nobre jusfilósofo brasileiro, fica clara a noção que o sistema do direito se compõe de um subsistema de normas, de um subsistema de fatos e de um subsistema de valores, isomórficos entre si, isto é, há uma correlação direta entre eles.
Essa tese foi reconhecida e aplaudida em diversos congressos de filosofia do direito, realizados no mundo todo, inserindo com letras imortais o nome de Miguel Reale ao lado de Kelsen, Hart e Cossio.
Hodiernamente, nonagenário, ocupa a cadeira n.º 14 da Academia Brasileira de Letras e outras inúmeras posições no cenário cultural e científico do país. Contudo, tantas glórias e conquistas, em suas palavras, de nada valeriam se não pudesse ter sido advogado, nunca servindo aos fortes e nem cedendo aos prepotentes, porque, ungindo da força moral e da conscientização profissional, buscou nunca fazer do direito "um brinco da inteligência, nem um ornato da natureza convencional ou formal, mas, sim, como sendo sempre uma dimensão plena da vida humana".
(Baseado em texto do advogado, Presidente da Comissão de Cultura da OAB de Sorocaba e mestre em Direito, Vinicius Camargo Silva.)

Jose Osvaldo De Meira Penna, embaixador e ensaísta
José Osvaldo de Meira Penna nasceu no Rio de Janeiro a 14 de março de 1917. Concluiu o Curso de Direito na Universidade dessa cidade, em 1939. Ingressou por concurso na carreira diplomática em 1938, tendo permanecido nela durante mais de quarenta anos, até sua aposentadoria, ocorrida em 1981. Cursou estudos complementares na Universidade de Columbia (New York), no Instituto Jung de Psicologia (Zurich) e na Escola Superior de Guerra (Rio de Janeiro).

Os primeiros anos de sua vida diplomática foram vividos em Calcutá, Xanghai, Ankara e Nandjing. Quando da sua primeira permanência na China foi surpreendido pela guerra (1942) e assistiu posteriormente ao colapso do regime nacionalista chinês. Desempenhou funções diplomáticas também em Costa Rica, no Canadá e na Missão Brasileira junto às Nações Unidas, de onde regressou ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, onde chefiou a Divisão Cultural, no período compreendido entre 1956 e 1959. Foi embaixador na Nigéria, Secretário-Geral Adjunto do Ministério das Relações Exteriores para a Europa Oriental e a Ásia e embaixador em Israel no período compreendido entre 1967 e 1970. Ocupou também o cargo de Assessor do Ministro da Educação e Cultura. Desempenhou as funções de embaixador na Noruega, no Equador e na Polônia, cargo com o qual encerrou a sua carreira diplomática. Depois de aposentado, Meira Penna ingressou no magistério, como professor vinculado ao Departamento de Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade de Brasília. Desde fins da década de sessenta desenvolve ampla e combativa atividade jornalística, sendo colaborador de importantes diários brasileiros como O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo), Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), e outros. Em 1986 criou, junto com alguns intelectuais de inspiração liberal, a Sociedade Tocqueville, entidade da qual ainda é o Presidente. Preside, também, o Instituto Liberal de Brasília e é membro ativo da Sociedade Mont Pélérin.

Meira Penna é um dos mais importantes e polêmicos ensaístas brasileiros. Os seus livros, ensaios e artigos cobrem ampla gama de assuntos. A sua produção intelectual pode ser aglutinada ao redor de três grandes centros de interesse: a história, a filosofia (notadamente a dedicada à reflexão sobre a política e a ética pública) e a sociologia. No campo da história, sobressaem as seguintes obras: Shangai, O sonho de Sarumoto e Quando mudam as capitais. No terreno da filosofia, pode-se mencionar vários títulos como por exemplo: Elogio do burro, O Evangelho segundo Marx, Opção preferencial pela riqueza, Decência já, O espírito das Revoluções e A Ideologia do século XX. No campo sociológico, as suas obras mais representativas são: Política externa: Segurança & Desenvolvimento, Psicologia do subdesenvolvimento, Em berço esplêndido, O Brasil na idade da razão, O Dinossauro e Utopia brasileira.
(José Luis Gómez-Martínez)

Gustavo Corção, escritor e pensador
“Agora, ali, além disso, eu descobria que aquela idéia que eu tinha formado de Gustavo Corção, através de pessoas hostis a ele, era inteiramente falsa. Ele era um homem boníssimo, talvez impulsivo e arrebatado nos seus impulsos, mas de uma bondade que transparece à primeira aproximação, nos seus olhos pequenos, azuis, vivos, risonhos, inteligentes e que — por mais estranho que isso possa parecer a quem não o conhece ou não gosta dele, de longe — são olhos de menino.
Ele não tem nada de intratável: apenas é um homem de princípios, corajoso e inflexível quando sustenta os princípios que julga certos. Mas com as pessoas, não. Se ele descobre que temos outras idéias mas, ao mesmo tempo, descobre que sustentamos essas idéias não por má-fé ou covardia, e sim por convicções — que podem estar erradas, mas são leais e firmes como as dele — discorda, mas respeita-nos e não nos nega a sua amizade.”
(ARIANO SUASSUNA, escritor, teatrólogo, do Conselho Federal de Cultura.)

"Expliquei-lhe que tudo em Corção é amor; poucas pessoas conheço com tanta vocação, tanto destino, para o amor. O que parece ódio, nos seus escritos, é ainda amor. Amor que assume a forma das grandes e generosas procelas.
Bate forte, muitas vezes. Mas sempre por amor. Está fatalmente ao lado da pessoa e contra a antipessoa. É a luta que o apaixona. Todos os dias, lá vai ele atirar o seu dardo contra as hordas da antipessoa. Eis o que eu repeti para o meu amigo das esquerdas: - o Corção tem um coração atormentado e puro de menino.
Quem o sabe ler, percebe em todos os seus escritos o pai de Rogério, sempre o pai de Rogério, querendo salvar milhões de filhos, eternamente."
(NÉLSON RODRIGUES, 0 Óbvio Ululante, 1968, pp. 164-166)

“O equilíbrio no julgamento dos problemas humanos, aquilo que os ingleses chamam de sound judgement, é um dos dotes da personalidade de Corção. Decorre do caráter quase universal de sua cultura. Cultura literária, cultura humanística, cultura matemática e física, conhecimento da técnica, capacidade de meditar, tudo isso, ajudado por esse dom precioso que se chama de 'bom senso' ou equilíbrio mental, faz com que, ao se defrontar com qualquer problema, seja ele humano, técnico, ou político, ele possa apreciá-lo por vários ângulos, sem nunca 'desgarrar' por incapacidade de compreender ou de sentir qualquer de seus aspectos. Esse é um dom muito raro.”
(EUGÊNIO GUDIN, economista, escritor e jornalista.)

Ives Gandra Da Silva Martins, eminente jurista e tributarista
Ives Gandra da Silva Martins, renomado jurista brasileiro com reconhecimento internacional, é professor emérito das universidades Mackenzie, Paulista e da ECEME – Escola de Comando do Estado Maior do Exército.
Presidente do Conselho da Academia Internacional de Direito e Economia, é membro das Academias de Letras Jurídicas, Brasileira e Paulista, Internacional de Cultura Portuguesa (Lisboa), Brasileira de Direito Tributário, Paulista de Letras, dentre outras.
Ao longo de sua notável trajetória, recebeu vários prêmios: Colar de Mérito Judiciário dos Tribunais de São Paulo e do Rio de Janeiro, Medalha Anchieta da Câmara Municipal de São Paulo, Medalha do Mérito Cultural Judiciário do Instituto Nacional da Magistratura e da Ordem do Mérito Militar do Exército Brasileiro, apenas para mencionar alguns. Já participou e organizou mais de 500 congressos e simpósios, nacionais e internacionais, sobre direito, economia e política.
O professor Ives Gandra é autor de mais de 40 livros individualmente, 150 em co-autoria e 800 estudos sobre assuntos diversos, como direito, filosofia, história, literatura e música, traduzidos em mais de dez línguas em 17 países.

Período Pré-Socrático, principais filosofos e suas teses.

A filosofia pré-socrática se desenrolou num espaço de quase dois séculos. Mais precisamente, os primeiros filósofos escreveram e ensinaram entre os anos 585 a.e.c. - data do eclipse, previsto por Tales,- e 410 a.e.c. quando Sócrates já atuava, orientando o interesse para a filosofia moral.

Desde então muito se altera na situação do pensamento grego, o qual passou a se centralizar, pelo menos um século, em Atenas.

Foram os primeiros filósofos do mundo ocidental que se tem notícia, são chamados assim pelo fato se antecederem àquele que foi talvez o mais famoso e importante de todos os filósofos da humanidade, Sócrates. Surgiram fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico.

O legado desses primeiros filósofos que nos chega aos dias de hoje são apenas fragmentos de suas obras. São chamados de filósofos da natureza, por investigarem os processos naturais e por buscarem uma matéria única, mínima e homogênea que seria comum a todas as coisas. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adotando uma forma científica de pensar. Eram poetas, profetas desprendidos que qualquer luxo citadino ou demais coisas materiais, dedicando-se explicitamente ao estudo da Natureza.

Alguns se propuseram a explicar as transformações dos processos naturais. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio séc. III d.e.c., Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do séc. VII a.ec., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos como Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra. A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia.

Os Pré-Socráticos conviveram com um pensamento grego cuja característica fundamental do pensamento estava na solução dualista do problema metafísico-teológico, na solução das relações entre a realidade empírica e o Absoluto que a explique, entre o mundo e Deus.

O período pré-socrático se redivide em fases e em escolas. As fases do período pré-socrático não se apresentam claras, podendo-se falar em fase antiga e fase nova. As escolas são determinadas bastantepela diferença de região, mas também pela diretriz doutrinária. No Oriente grego as escolas são mais empiristas ou racionalistas moderadas, e as do Ocidente (ou Itália), são mais racionalistas, e mesmo racionalistas radicais.

Didaticamente se insiste mais na divisão do período pré-socrático em escolas, que em suas fases de desenvolvimento. A divisão por escolas foi bastante condicionada pelas regiões geográficas, todavia não inteiramente.
São escolas pré-socráticas:

Escola jônica, a mais antiga, redividida, em fases, - escola jônica antiga, escola jônica nova, a que se acrescentam os seus epígonos;
Escola itálica, ou pitagórica, no Ocidente;
Escola eleática, também no Ocidente;
Escola atomista, na Grécia continental.
A divisão pelos autores é importante na filosofia pré-socrática, por causa do caráter fragmentário das informações e dúvida sobre muitas de suas idéias. Passamos a arrolar os filósofos pré-socráticos, distribuindo-os pelas suas escolas e seqüência cronológica.



Tales de Mileto (624-548 A.C.) "Água"

Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; A água é a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão cheias de deuses. O imã possui vida, pois atrai o ferro.

Segundo Aristóteles sobre a teoria de Tales: elemento estático e elemento dinâmico. Elemento Estático - a flutuação sobre a água. Elemento Dinâmico - a geração e nutrição de todas as coisas pela água. Tales acreditava em uma "alma do mundo", havia um espírito divino que formava todas as coisas da água. Tales sustentava ser a água a substância de todas as coisas.

Matemático e astrônomo grego nascido em Mileto, na Jônia, Ásia Menor, hoje Yeniköy, Turquia, além de um bem sucedido comerciante nos ramos de azeite e sal, é considerado o primeiro filósofo grego e o primeiro dos sete sábios da idade helênica, o pai da filosofia e o fundador da ciência física. Estudou geometria no Egito, onde mediu a altura das pirâmides pela sombra delas, e astronomia na Babilônia, sob o governo de Nabucodonosor. Fundou a primeira escola grega de filosofia, na Jônia, colônia grega na Ásia Menor, onde ficava Mileto, cidade destruída por Dario (494 a. C.). Considerado o criador da geometria dedutiva (585 a. C.), são-lhe atribuídas as deduções de cinco teoremas da geometria plana. Na astronomia dividiu a esfera do céu em cinco círculos, ou zonas: ártica, trópico de verão, equador, trópico de inverno e antártica, e foi o primeiro astrônomo a explicar o eclipse do Sol, ao verificar que a Lua era iluminada por esse astro.

Defendeu o conceito de que a Terra era plana e o ano solar de 365 dias. Introduziu uma revolucionária teoria cosmológica sobre a constituição do Universo e da Terra, na qual a água era o elemento do qual o mundo se originara e ao qual estava destinado a retornar. Ou seja, com base na teoria dos egípcios e mesopotâmios, pois os egípcios e mesopotâmios afirmavam que a água, o ar e a terra eram os elementos primários da natureza, afirmou que a água era o elemento fundamental do universo e de toda a constituição da matéria, ou seja, todas as coisas eram feitas de água e que os diferentes aspectos eram resultados das diferentes concentrações, e que o fogo e a terra eram os outros elementos da natureza. Posteriormente Empédocles de Agrigento, acrescentou-lhes um quarto, o éter, chamando-os de raízes das coisas, rizomata, que Aristóteles mais tarde os denominou de elementos. Os jônicos buscavam um único princípio das coisas para interpretação do universo.

Juntamente com Anaximandro e Anaxímenes, são considerados os principais pensadores da cidade de Mileto, cujas doutrinas, sobretudo as considerações sobre a phisis, marcaram o início da ciência e da filosofia ocidentais, e que constituíram a chamada escola milésica, jônica ou de Mileto, a qual se oporiam os eleatas, representantes do espírito dórico. A nova concepção de mundo dos milésios denominou-se logos, palavra grega que significa razão, palavra ou discurso. Para eles, segundo Aristóteles, a questão primordial não era o que sabemos, mas como o sabemos. Surgiu, assim, a primeira tentativa de explicar racionalmente o universo, sem recorrer a entidades sobrenaturais. Buscavam um princípio unificador imutável, ao qual chamaram arké, origem, substrato e causa de todas as coisas. Na hidráulica sua maior contribuição é a tese de que na natureza o melhor estudo é o obtido por observação direta.

Na política consta que defendeu a federação das cidades jônicas da região do Egeu e impediu uma aliança formal com Creso, último rei da Lídia (560-546 a. C.). Morreu em Mileto e foi o mais antigo dos filósofos pré-socráticos e também o primeiro geômetra grego, embora nenhum de seus escritos tenha chegado aos nossos dias, nem há fontes contemporâneas a seu respeito, e as realizações que lhe são atribuídas sejam baseadas em referências tardias como nos relatos dos historiadores gregos Diógenes Laércio e Heródoto e do filósofo Aristóteles, ou em lendas mantidas pela tradição. Consta, por exemplo, que teria demonstrado que dois ângulos opostos pelo vértice são iguais, em um triângulo isósceles os ângulos da base são iguais, qualquer ângulo inscrito em um semicírculo é reto e qualquer diâmetro divide o círculo em duas partes iguais, além do caso lado-ângulo-lado da igualdade de triângulos e, por essa razão, é considerado o pai da matemática dedutiva e a Jônia o berço da Matemática grega.



Teses

“... A água é o princípio de todas as coisas...”. - “... Todas as coisas estão cheias de Deuses...”. - “... A pedra magnética possui uma alma porque move o ferro...". - “... A alma é uma natureza sempre em movimento, ou que se move por si mesma...". - “... Deus é o mais antigo dos entes, porque ele é por si mesmo...”. - “...O mundo é isto, que de mais belo existe, porque ele é a obra de Deus...”. - “... O espaço é aquilo, que de maior existe, porque ele contém tudo...”. - “... A mente é isto, que de mais rápido existe, porque ela corre através de tudo...”. - “... A necessidade é o que há de mais forte, porque ela tudo rege...”. - "... O mais sábio é o tempo, porque ele descobre tudo...".

Anaximandro (611-547 A.C.) "Ápeiron"

Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron (ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada. Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens. Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na direção da independência do "princípio" em relação às coisas particulares. Para ele, o princípio da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado). Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto. Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.

Teses

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I “... Nosso mundo é um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem no infinito...”.
II “...O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito...”.
III “... As estrelas são porções comprimidas de ar, com a forma de rodas cheias de fogo, e emitem chamas a partir de pequenas aberturas ...'' .
IV ”... O Sol é um círculo vinte e oito vezes maior que a Terra; é como uma roda de carruagem, cujo aro é côncavo e cheio de fogo, que brilha em certos pontos de abertura como os bicos dos foles ...''.
V “... O ilimitado é eterno...”
VI “... O ilimitado é imortal e indissolúvel...”

Anaxímenes de Mileto (588-524 A.C.) "Ar"
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Anaxímenes de Mileto é o terceiro e último importante filósofo da escola jônica antiga, no quadro ainda da fase milesiana.

Embora pouco se saiba de sua vida, ele é contudo citado com frequência para dizer que foi sua a proposição do ar como elemento básico na formação de tudo.
Dedicou-se à meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do sol. Era companheiro de Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém unidos, assim um espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa.

Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrato, foi discípulo de Anaximandro. Nasceu quando Anaximandro tinha 25 anos, no mesmo ano do eclipse predito por Tales. Anaxímenes nasceu, quando Mileto ainda era florescente cidade independente e liderava as cidades da confederação jônica

O verdadeiro significado de Anaxímenes está em haver dado continuidade à ciência e à filosofia em curso. Por Anaxímenes se constata que a ciência e a filosofia, já nascidas, prosperam definitivamente por fora das tradições dogmáticas mitológicas.
A influência de Anaxímenes ocorreu sobre os mais diversos filósofos, como por exemplo Pitágoras, Melisso, Anaxágoras, Demócrito, Diógenes de Apolônia.

Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista.

Teses

I “...O sol é largo como uma folha...".

II “... Do ar nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”.

III “... O Ar é Deus...”.

IV “... O ar contraído e condensado da matéria é frio, e o ralo e frouxo é quente. Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o Cosmo, sopro e ar mantém...''.

Heráclito (540-480A.C.).

Pertencia à aristocracia local. Chamado de “o obscuro”, pelo estilo hermético de sua obra, da qual restaram pequenos trechos dos escritos. A teoria dos opostos O mundo é um equilíbrio de tendência opostas que apesar de apontarem para direções contrária são na verdade idênticas. Seu objetivo é ético-político, não “científico” como o dos filósofos da natureza (não segue a linha de Tales).-“Todo acontecer é regido por leis universais” (para Heráclito: no sentido normativo de deveres comuns, não no sentido da teoria das invariações).“-” Unidade na diversidade” (identidade e invariação das coisas no rio (fluxo) de suas transformações: “Nunca podes entrar no mesmo rio pela segunda vez”. O rio pode ser identificado como o mesmo, embora que sempre haja transformações de situações, circunstâncias e coisas.

Teses

I "Os homens são deuses mortais e os deuses, homens imortais; viver é-lhes morte e morrer é-lhes vida".

II "Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos".

III “... O movimento se processa através de contrários.."

IV “... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia...”

V “... Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois da segunda vez, tanto rio, como nós estaremos mudados...”.

VI "... Mais vale apagar o orgulho que um incêndio...".

VII “... Para mim, um homem vale trinta minas; uma multidão não vale nem uma só...”.

VIII "...Se há deuses, porque os chorais? Mas se os chorais, não os venerais como deuses...".

IX "...Bem dizia Heráclito: homens são deuses e deuses são homens, porque o logos é um só...”.

X "...Pois justamente também o nobre Heráclito vitupera a turba, como destituída de inteligência e raciocínio: que senso e intelecto é o deles? Deixam-se guiar por poetas errantes e amestrar pela multidão; não sabem que muitos são os maus, poucos os bons...”.

XI "O mais belo dos macacos é feio se se compara com a raça dos homens. O mais sábio dos homens, comparado com Deus parece um macaco em sabedoria, beleza e tudo o mais".

Demócrito ( 460 - 370 A.C )

Demócrito é o filósofo grego de Abderas cujas idéias foram muito importantes no desenvolvimento da teoria atômica da matéria.

Demócrito, discípulo de Leucipo, de quem adotou as idéias básicas e as desenvolveu, considerava o universo constituído de partículas indivisíveis, os atoma, em número infinito, invisíveis , eternos e em movimento através do kenon, ou vácuo, de extensão infinita.

Os átomos, na concepção de Demócrito, podiam ser diferentes uns dos outros, pela forma, posição, arranjo e peso.

Átomos lisos, como o da água, rolavam uns sobre os outros e conferiam fluidez ao corpo que constituiam.

Átomos de superfície rugosa, irregular, com reentrâncias, aderiam uns aos outros e formavam os corpos sólidos.

Como os átomos são eternos e todas as coisas constituídas por aglomerados de átomos, nascimento e morte são conceitos relativos.

Há "nascimento" quando há reunião de átomos em aglomerados e há "morte" quando eles se dispersam.

Considerava que o movimento dos átomos no universo não tem causa predefinida alguma e que não há princípio ou inteligência que os guie na sua trajetória.

O movimento destas partículas se dava em todas as direções e ao se chocarem produziam um redemoinho (dine) que segregava átomos iguais reunindo-os em aglomerados.

Estes formavam os corpos celestes e os objetos.

Acreditava também que havia uma quantidade inumerável de mundos de tamanhos diferentes, muitos deles sem sol e sem lua e muitos deles maiores que o nosso mundo.

As distâncias entre os mundos eram diferentes umas das outras e a ocorrência deles maior em algumas regiões e menor em outras.

Também podiam se destruir chocando-se uns com os outros.
Haveria muitos mundos sem criaturas viventes ou vegetação ou água.

um pouco mais ...

Demócrito concordava com seus antecessores num ponto: as transformações que se podiam observar na natureza não significavam que algo realmente se "transformava". Ele presumiu, então que todas as coisas eram constituídas por uma infinidade de pedrinhas minúsculas invisíveis, cada uma delas sendo eterna e imutável. A essas unidades mínimas Demócrito deu o nome de átomos .

A palavra "átomo" significa "indivisível". Para Demócrito era muito importante estabelecer que as unidades constituintes de todas as coisas não podiam ser divididas em unidades ainda menores. Isso porque se os átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser divididas em unidades ainda menores, a natureza acabaria por se diluir totalmente. Como uma sopa que vai ficando cada vez mais rala.

Além disso, as "pedrinhas" constituintes da natureza tinham de ser eternas, pois nada pode surgir do nada. Neste ponto, Demócrito concordava com Parmênides e com os eleatas. Para ele, os átomos eram unidades firmes e sólidas. Só não podiam ser iguais, pois se eles se combinarem para formar de papoulas a oliveiras, do pêlo de um bode ao cabelo humano.

Demócrito achava que existia na natureza uma infinidade de átomos diferentes: alguns arredondadas e lisos, outros irregulares e retorcidos. E precisamente porque suas formas eram tão irregulares é que eles podiam ser combinados para dar origem a corpos os mais diversos. Independentemente, porém, do número de átomos e de sua diversidade, todos eles seriam eternos, imutáveis e indivisíveis.

Se um corpo por exemplo, de uma árvore ou de um animal morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar origem a outros corpos. Pois se é verdade que os átomos se movimentam no espaço, também é verdade que eles possuem diferentes "ganchos" e" engates"e podem ser novamente reaproveitados na composição de outras coisas que vemos ao nosso redor.

Hoje em dia podemos dizer que a teoria atômica de Demócrito estava quase perfeita.De fato,a natureza é composta de diferentes átomos,que se ligam a outras para depois se separarem novamente.Um átomo de hidrogênio presente numa célula da pontinha do meu nariz pode ter pertencido um dia à tromba de um elefante. Um átomo de carbono que está hoje no músculo do meu coração provavelmente esteve um dia na cauda de um dinossauro.

Hoje em dia, porém, a ciência descobriu que os átomos podem ser divididos em partículas ainda menores, as "partículas elementares". São elas os prótons, nêutron e elétrons. E talvez essas partículas também possam ser divididas em outras, menores ainda.

Mas os físicos são unânimes em achar que em alguma parte deve haver um limite para essa divisão. Deve haver as chamadas partículas íntimas a partir das quais toda a natureza se constrói.

Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época . Na verdade, sua única ferramenta foi a razão. Mas a razão não lhe deixou escolha. Se aceitamos que nada pode se transformar, que nada surge do nada e que nada desaparece, então a natureza simplesmente tem de ser composta por pecinhas minúsculas, que se combinam e depois se separam.

Demócrito não acreditava numa "força" ou numa "inteligência" que pudessem intervir nos processos naturais. As únicas coisas que existem são átomos e o vácuo, dizia ele. E como ele só acreditava no "material", nós o chamamos de materialista.

Por detrás do movimento dos átomos, portanto, não havia determinada "intenção". Mas isso não significa que os acontecimentos sejam "acasos", pois tudo é regido pelas inalteráveis leis da natureza. Demócrito acreditava que tudo o que acontece tem uma causa natural; uma causa que é inerente à própria coisa. Conta-se que ele teria dito que preferiria descobrir uma lei natural a se tornar rei da Pérsia.

Para Demócrito, a teoria atômica explicativa também nossas percepções sensoriais. Quando percebemos alguma coisa, isso se deve ao movimento dos átomos no espaço. Quando vejo a Lua, isso acontece porque os "átomos da Lua" tocam os meus olhos.

Mas o que acontece com a consciência ? Está aí uma coisa que não pode ser composta de átomos, quer dizer, de "coisas"materiais, certo?

Errado. Demócrito acreditava que a alma era composta por alguns átomos particularmente arredondados e lisos, os "átomos da alma". Quando uma pessoa morre, os átomos de sua alma espalham-se para todas as direções e podem se agregar a outra alma, no momento mesmo em que essa é formada.

Isso significa que o homem não possui uma alma imortal. E esse é um pensamento compartilhado por muitas pessoas em nossos dias. Com Demócrito, elas acreditam que a alma está intimamente relacionada ao cérebro e que não podemos possuir qualquer forma de consciência quando o cérebro deixa de funcionar e degenera.

Com sua teoria atômica, Demócrito coloca um ponto final, pelo menos temporariamente, na filosofia natural grega. Ele concorda com Heráclito em que tudo "flui" na natureza, pois as formas vão e vêm. Por detrás de tudo que flui, porém, há algo de eterno e de imutável, que não flui. A isso ele dá o nome de átomo. Ele tinha encontrado a solução para os problemas do "elemento básico" e das "transformações". Essa questão era tão complicada que os filósofos tinham levado gerações quebrando a cabeça com ela. No fim, Demócrito resolvera todo o problema, usando para isso apenas a sua razão. Tinha de ser verdade que a natureza era composta de partículas minúsculas que nunca se modificavam. Ao mesmo tempo, Heráclito também tinha razão ao dizer que todas as formas da natureza "fluem". Isso porque todos os homens e todos os bichos morrem, e até essa montanha vai se desintegrando aos poucos. O importante, porém, é que até essa montanha é composta de minúsculas partes, indivisíveis, que nunca se desintegram.

Ao mesmo tempo, Demócrito colocara ainda outras questões para a reflexão. Por exemplo, ao dizer que tudo acontecia mecanicamente. Ao contrário de Empédocles e Anaxágoras, ele não acreditava na força de interferências espirituais sobre a vida. Além disso, Demócrito não acreditava que o homem possuía uma arma imortal.

Teses

I “... Os cosmos [ou mundos] são ilimitados; surgem e se decompõem. Nada pode vir à existência a partir do não existente; nada do que é, passa ao que não existe. E os átomos são ilimitados em tamanho e multidão...”.
II “...Os átomos não são divisíveis, e não há divisão até o ilimitado...”.
III “... Tudo acontece pelo destino, trazendo este destino consigo a força da necessidade...'' .
IV ”...Os cosmos são ilimitados; surgem e se decompõem...''.
V “...Só o temor à morte cria às falsas legendas sobre o estado de depois da morte" Demócrito de Abdera, Atomista
a alma é perecível e desaparece com o corpo...”
VI “...O prazer e a dor são o critério do útil e do prejudicial...”

Pitágoras (570-496 A.C)

Pitágoras de Samos, um dos "sete sábios da Grécia", foi filósofo e matemático, moralista e fundador no sul da Itália de uma comunidade religiosa, denominada por isso mesmo pitagórica, ou simplesmente escola itálica.

Ainda que não tenha deixado escritos, sua doutrina se transferiu oralmente ao que o seguiram. Fosse através da comunidade que fundou, fosse através dos escritos criados neste contexto, Pitágoras influenciou toda a antiguidade, inclusive ao cristianismo e ainda hoje continua a inspirar algumas organizações sociais de cunho místico.

Vida - A biografia de Pitágoras contém episódios lendários, os quais todavia confirmam haver sido pessoa tida em alto apreço e influência. Figura Pitágoras entre os filósofos pré-socráticos sobre os quais Diógenes Laércio, do séc. III a.e.c., mais vastamente informou. Entretanto, as fontes biográficas próximas ao tempo do mesmo Pitágoras são poucas e parcas nas informações. Este fato parece dizer que os episódios de sua vida vieram crescendo no curso dos séculos, como facilmente acontece com os líderes religiosos.

Os informes doxográficos crescem somente com os autores tardios, situados já ao tempo da era cristã, quando o pitagorismo já assumia as novas formas do neopitagorismo e mesmo do neoplatonismo, num contexto moral e religioso, típico do período helênico-romano.

Datam deste tempo tardio Apolônio de Thyana e Nicômaco de Gerasa, - estes neopitagóricos, sobre os quais logo se apoiarão Diógenes Laércio (VII, 1-50), Porfirio (Vivo de Pitagoro), Jâmblico (Vida de Pitágoras). As aproximações entre pitagorismo e cristianismo, bem como oposições, fizeram com que algumas informações sobre o referido pitagorismo fossem dados por autores cristãos.

Mestres de Pitágoras - Aparentemente, Pitágoras pertenceu a uma rica família de comerciantes gregos. Nesta condição pode facilmente viajar, contatando homens de saber e mesmo aprender por obra da observação sobre os costumes e doutrinas vigentes em outras regiões, sobretudo do Oriente. O informe de Diógenes Laércio, dizendo que Pitágoras é filho de Mármaco, acrescenta "que indo ele à Lesbos [capital Mitilene], seu tio Zojlo o recomendou à Ferécides". Pouco adiante complementa: "Ele teve como mestre, Ferécides de Siros, indo depois da morte deste para Samos, para ouvir a Hermodamos, neto de Cléofilo, então já idoso" (D. L., VII, 2).

Como se sabe Ferécides de Siros é um personagem importante do pensamento órfico iraniano que então penetrava no Ocidente, e haveria de generalizadamente influenciar a filosofia e as religiões.

Teses



A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.

Pitágoras

Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.

Pitágoras

Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito.

Pitagoras

Ajuda o teu semelhante a levantar a carga, mas não a levá-la.

Pitágoras

Em estado de dúvida, suspende o juízo.

Pitágoras

A vida é como uma sala de espectáculos; entra-se, vê-se e sai-se.

Pitágoras

O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos.

Pitágoras

A verdadeira amizade significa unir muitos corações e corpos num coração e num espírito.

Pitágoras

Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade.

Pitágoras

Os homens são miseráveis, porque não sabem ver nem entender os bens que estão ao seu alcance.

Pitágoras

O universo é uma harmonia de contrários.

Pitágoras

O homem é mortal por seus temores e imortal pelos seus desejos.

Pitágoras

Não te gabes de ser adorado por uma mulher que se adora muito.

Pitágoras

Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, então cala-te.

Pitágoras

Purifique teu coração para permitir que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda no recipiente sujo.

Pitágoras

Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio.

Pitágoras

Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo.

Pitágoras

Não pede nada nas tuas preces, porque tu não sabes o que é útil e só Deus conhece as tuas necessidades.

Pitágoras

Não é livre quem não obteve domínio sobre si.

Mito

O mito apesar de ser um conceito não definido de modo preciso e unânime, constitui uma realidade antropológica fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre as origens do homem e do mundo em que vive, como traduz por símbolos ricos de significado o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência.
Mito é uma narrativa tradicional de conteúdo religioso, que procura explicar os principais acontecimentos da vida por meio do sobrenatural. O conjunto de narrativas desse tipo e o estudo das concepções mitológicas encaradas como um dos elementos integrantes da vida social são denominados mitologia.

Segundo Mircea Eliade(professora de Filosofia da USP), a tentativa de definir mito é a seguinte, “o mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares....o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...o mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir...”

Eros e Anteros

Foi pela intervenção de um poder divino, eterno como os elementos do próprio Caos, pela intervenção manifesta de um deus que, sem ser propriamente o amor, tem entretanto alguma conformidade com ele, que o Caos, a Noite, o Érebo puderam unir-se para a procriação. Em grego, esse deus antigo, ou melhor, anterior a toda antigüidade, chama-se Eros. É ele que inspira ou produz esta invisível simpatia entre os seres, para os unir em outras procriações. O poder de Eros vai além da natureza viva e animada: ele aproxima, une, mistura, multiplica, varia as espécies de animais, de vegetais, de minerais, de líquidos, de fluídos, em uma palavra, de toda a criação. Eros é pois o deus da união, da afinidade universal; nenhum outro ser pode furtar-se à sua influência ou à sua força: Eros é invencível. Entretanto, tem como adversário no mundo divino - Anteros, isto é, a antipatia, a aversão. Esta divindade tem todos os atributos opostos aos do deus Eros: separa, desune, desagrega. Tão salutar, tão forte e poderoso talvez como Eros, Anteros impede que se confundam os seres da natureza dissemelhante; se algumas vezes semeia em torno de si a discórdia e o ódio, se prejudica a afinidade dos elementos, ao menos a hostilidade que entre eles cria contém cada um nos limites marcados, e destarte a natureza não pode cair novamente no caos.

Mito e religião

Alguns especialistas, como Mircea Eliade, estudioso de história comparada das religiões, atribuem importância especial ao contexto religioso do mito. Com efeito, são muito frequentes os mitos que versam sobre a origem dos deuses e do mundo (chamados, respectivamente, mitos teogônicos e cosmogônicos), dos homens, de determinados ritos religiosos, de preceitos morais, tabus, pecados e redenção. Em certas religiões, os mitos formam um corpo doutrinal e estão estreitamente relacionados com os rituais religiosos -- o que levou alguns autores a considerar que a origem e a função dos mitos é explicar os rituais religiosos. Mas tal hipótese não foi universalmente aceita, por não esclarecer a formação dos rituais e porque existem mitos que não correspondem a um ritual.

O mito, portanto, é uma linguagem apropriada para a religião. Isso não significa que a religião, tampouco o mito, conte uma história falsa, mas que ambos traduzem numa linguagem plástica (isto é, em descrições e narrações) uma realidade que transcende o senso comum e a racionalidade humana e que, portanto, não cabe em meros conceitos analíticos. Não importa, do ponto de vista do estudo da mitologia e da religião, que Prometeu não tenha sido realmente acorrentado a um rochedo com um abutre a comer-lhe as entranhas, nem que Deus não tenha criado o ser humano a partir do barro. Religião e mito diferem, não quanto à verdade ou falsidade daquilo que narram, mas quanto ao tipo de mensagem que transmitem.
A mensagem religiosa geralmente exige determinado comportamento perante Deus, o sagrado e os homens, e é, muitas vezes, formulada de forma compatível com conceitos racionais e em doutrinas sistematizadas. O mito abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos, que são aceitos e formulados de modo menos consciente e deliberado, mais espontâneo, sem considerações críticas.

Mito e sociedade

Como forma de comunicação humana, o mito está obviamente relacionado com questões de linguagem e também da vida social do homem, uma vez que a narração dos mitos é própria de uma comunidade e de uma tradição comum. Não se conseguiu definir, no entanto, a natureza precisa dessas relações. Alguns lingüistas admitem explicitamente a necessidade de uma ciência mais abrangente, como por exemplo uma nova ciência geral da semiologia, cuja tarefa seria estudar todos os signos essenciais à vida social, e uma nova psicologia, que caracterizaria inicialmente vários sistemas do conhecimento e da crença humanos. O estudo da sociedade e da linguagem pode começar apenas com os elementos fornecidos pela fala e pelas relações sociais humanas, mas em cada caso esse estudo se confronta com uma coerência de tradições que não está directamente aberta à pesquisa. Essa é a área em que atua a mitologia.

Algumas concepções mitológicas podem exemplificar a complexidade e a variedade das relações entre mito e sociedade. A tribo lugbara (do noroeste de Uganda e do Congo) utiliza um sistema conceptual para relacionar sua ordem sociopolítica a dois heróis ancestrais, relacionados, em contrapartida, à criação do universo. As narrações sobre a evolução da tribo a partir de seus heróis ancestrais são apresentadas na forma de saga, embora a "história" mais primitiva seja contada em mitos. É notável, porém, que o único esquema conceptual do sistema social dos lugbara relacione o passado mítico e o genealógico (não-mítico) e que, em seu conjunto, seja expresso mais em categorias espaciais do que histórico-temporais.

Mito e psicologia

Freud deu nova orientação à interpretação dos mitos e às explicações sobre sua origem e função. Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais, ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, os mitos seriam, segundo a nova perspectiva proposta, uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo. Não foi por outra razão que Freud recorreu ao mito grego para dar nome ao complexo de Édipo: para ele, o mito do rei que mata o pai e casa com a própria mãe simboliza e manifesta a atracção de carácter sexual que o filho, na primeira infância, sente pela mãe e o desejo de suplantar o pai.

"Não será verdade que cada ciência, no final das contas, se reduz a um certo tipo de Mitologia?"

Mito e filosofia

A mente humana é naturalmente inquiridora: quer conhecer as razões das coisas. Basta ver uma criança fazendo perguntas aos pais. Mas as mesmas perguntas podem ser dadas diversas respostas: respostas míticas, científicas, filosóficas. As respostas míticas são explicações que podem contentar a fantasia, embora não sejam verdadeiras. Como, por exemplo, quando, a pergunta da criança “por que o carro se move”, responde-se “porque uma fade o empurra”. Já as respostas científicas procuram satisfazer a razão, mas são sempre explicações incompletas, parciais, fragmentarias: dizem respeito apenas a alguns fenômenos, não abrangem toda a realidade. As respostas filosóficas propõem-se, ao contrário, como dissemos, oferecer uma explicação completa de todas as coisas, do conjunto, do todo.

A humanidade primitiva (pode-se verificar em todos os povos) contentava-se com explicações míticas para qualquer problema. Assim, a pergunta “por que troveja?”, respondia: “Porque Júpiter está encolerizado”; à pergunta “por que o vento sopra?”, respondia: “porque Eolo está enfurecido”.

A nós modernos, estas respostas parecem simplistas e errôneas. Historicamente, contudo, elas têm uma importância muito grande porque representam o primeiro esforço da humanidade para explicar as coisas e suas causas. Sob o véu da fantasia, há nessas respostas uma autêntica procura das “causas primeiras” do mundo. Julgamos oportuno por isso, dizer aqui algumas palavras sobre o mito, sobre sue definição, sobre suas interpretações principais e sobre a passagem da mitologia grega pare a filosofia.

Turchi, grande estudioso da história das religiões, dá a seguinte definição de mito:

“Em sua acepção geral e em sua fonte psicológica, o mito é a animação dos fenômenos da natureza e da vida, animação devida a alguma forma primordial e intuitiva do conhecimento humano, em virtude da qual o homem projeta a si mesmo nas coisas, isto é, anima-as e personifica-as , dando-lhes figura e comportamentos sugeridos pela sue imaginação; o mito é, em suma, uma representação fantástica da realidade, delineada espontaneamente pelo mecanismo mental”.

Desta longa definição retenhamos a última parte: o mito é uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.

Como dissemos acima, desde o início o homem procurou indagar sobre a origem do universo, sobre a natureza das coisas e das forças as quais se sentia sujeito. A esta indagação ele deu sob o impulso da fantasia criadora - tão ativa entre os povos primitivos - cor e forma, criando um mundo de seres vivos (em forma humana ou animal) dotados de história. A função deles era fornecer uma explicação para os acontecimentos da natureza e da existência humana: para a guerra e a paz, para a bonança e a tempestade, para a abundância e a carestia, para a saúde e a doença, para o nascimento e a morte. Todos os povos amigos - assírios, babilônios, persas, egípcios, hindus, chineses, romanos, gauleses, gregos - tem seus mitos. Mas entre todas as mitologias, a grega é a que mais se destaca pela riqueza, ordem e humanidade. Não é de se admirar, por isso, que a filosofia se tenha desenvolvido justamente da mitologia grega.

Do mito foram dadas as mais diversas interpretações, das quais as principais são: mito-verdade e mito-fábula.

Segundo a interpretação “mito-verdade”, o mito é uma representação fantasiosa que pretende exprimir uma verdade; segundo a interpretação "mito-fábula", ele é uma narração imaginosa sem nenhuma pretensão teórica. Para a primeira interpretação, os mitos são as únicas explicações das coisas que a humanidade, nos seus primórdios, estava em condições de fornecer e nas quais ela acreditava firmemente. Para a segunda interpretação, eles são representações fantasiosas nas quais ninguém jamais acreditou muito menos seus criadores.

Os primeiros que consideraram os mitos como simples fábulas foram os filósofos gregos. A eles se juntaram mais tarde os Padres da Igreja, os escolásticos e a maior parte dos filósofos modernos.

Mas, a partir do começo do nosso século, vários estudiosos da história das religiões (Eliade), da psicologia (Freud), da filosofia (Heidegger), da antropologia (Levi-Strauss ), da teologia (Bultmann) começaram a apoiar a interpretação mito-verdade, argumentando que a humanidade primitiva, embora não podendo dar uma explicação racional e metódica do universo, deve ter procurado explicar para si mesma fenômenos como a vida, a morte, o bem, o mal etc., fenômenos estes que atraem a atenção de qualquer observador, mesmo que dotado de pouca instrução. Na opinião de muitos estudiosos contemporâneos, os mitos escondem, portanto, sob a capa de imagens mais ou menos eloqüentes, a resposta dada pela humanidade primitiva a estes grandes problemas. Estas respostas pensam eles que merece ser tomada em consideração ainda hoje porque, em alguns casos, a humanidade primitiva, simples e atenta pode ter percebido melhor o sentido das coisas do que a humanidade mais adiantada, muito maliciosa e desatenta.

Das análises feitas pelos estudiosos de nosso tempo segue-se que o mito exerceu, entre os povos antigos, três funções principais: religiosa, social e filosófica.

Primeiramente, “o mito é o primeiro degrau no processo de compreensão dos sentimentos religiosos mais profundos do homem; é o protótipo da teologia”. Mas, ao mesmo tempo, ele e também aquilo que assinala e garante o pertencer a um grupo social e não a outro; de fato, o pertencer a este ou aquele grupo depende dos mitos particulares que alguém segue e cultiva. Finalmente, o mito exerce uma função semelhante a da filosofia, enquanto representa o modo de se auto-compreender dos povos primitivos. Também o homem das civilizações antigas tem consciência de certos fatos e valores, e cristaliza a causa dos primeiros e a realidade dos segundos justamente nas representações fantásticas que são os mitos.

Em nossa opinião, o mito é denso de significado tanto religioso como filosófico, tanto social como pessoal. Mas não concordamos com uma valorização que o equipare à filosofia. Embora tendo fundamentalmente o mesmo objetivo que o mito, a saber, o de fornecer uma explicação exaustiva das coisas, a filosofia procura atingir este seu objetivo de modo completamente diferente. De fato, o mito procede mediante a representação fantástica. A imaginação poética, a intuição de analogias, sugeridas pela experiência sensível; permanece, pois aquém do logos, ou seja, aquém da explicação racional. A filosofia, ao contrário, trabalha só com a razão, com rigor lógico, com espírito crítico, com motivações racionais, com argumentações rigorosas, baseadas em princípios cujos valores foram previa e firmemente estabelecidas de forma explicita .

Enem

O Ministério da Educação apresentou uma proposta de reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e sua utilização como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais.


A proposta tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio.


As universidades possuem autonomia e poderão optar entre quatro possibilidades de utilização do novo exame como processo seletivo:


• Como fase única, com o sistema de seleção unificada, informatizado e on-line;
• Como primeira fase;
• Combinado com o vestibular da instituição;
• Como fase única para as vagas remanescentes do vestibular.


Para mais informações Clique no link abaixo ou acesse o site do MEC:
http://www.enem.inep.gov.br/index.php

Sites referenciais.

http://www.filosofia.com.br/

http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/425542

http://centrofilos.portalser.net/

http://pensadoresbrasileiros.home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/filosofia_liberdade.html

sábado, 7 de novembro de 2009

Definição de Filosofo.

O filósofo é um desvelador, alguém que afasta o véu daquilo que está a encobrir os nossos olhos e procura mostrar os objetos na sua forma e posição original, agindo como alguém que encontra uma estátua jogada no fundo do mar coberta de musgo e algas, e gradativamente, afastando-as uma a uma, vem a revelar-nos a sua real forma.
ou seja 0 filosofo e alguém que nos ajuda a descobrir a verdade nas questões e nas perguntas.

A importancia da Filosofia na Sociedade.

A importância social da filosofia é quebrar barreiras para que o indivíduo através do seu esforço alcance, um estado pleno de satisfação, que ocasionará um momento de felicidade. Pois, a filosofia tem a finalidade de fazer com que ele entenda o breve momento atingido, “A Felicidade”.
Podemos concluir que sua missão principal, é tornar viável, possível, a busca da felicidade, é quebrar conceitos existentes, mostrando ao homem, nessa busca, que lhe é permitido a mudança de comportamento em relação ao meio que vive. Serenando, consolando os momentos de crise, para conseguir a plenitude a paz interior

O que é filosofia?

Filosofia (do grego Philossophia: philos - que ama + sophia - sabedoria, « que ama a sabedoria ») é a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem.